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O gerador de Macaco Branco - UNILINS

O gerador de Macaco Branco

Quem circula pelo campus da Unilins já teve a oportunidade de notar o grande caracol de aço em exibição próximo ao anfiteatro da Instituição. A peça, que possui grande relevância histórica, foi uma concessão do Governo do Estado de São Paulo, através do DAEE e Prefeitura Municipal de Lins, articulada com apoio do linense Sergio Antunes. 

A Usina de Macaco Branco

Situada no município de Campinas/SP,  a Empresa Hidrelétrica Jaguari foi uma iniciativa de Silvio de Aguiar Maya e sua família, que em 1912 inauguram a Pequena Central Hidrelétrica (PCH) de Macaco Branco, no rio Jaguari,  próxima à cidade paulista de Pedreira.

A família Maya era proprietária de vários empreendimentos no município de Pedreira, como olarias e a Tecelagem Santa Sofia. A energia gerada no Macaco Branco era distribuída para Pedreira e para o povoado de Jaguari, então pertencente ao município de Mogi Mirim e emancipado em 1953 com o nome de Jaguariúna. Anos mais tarde, A energia elétrica gerada no local, passou a integrar o Sistema Nacional e a ser distribuída para todo o país.

A Empresa Hidrelétrica Jaguari permaneceu como uma empresa familiar até 1979, quando foi vendida à Companhia Paulista de Energia Elétrica, um tradicional conglomerado de empresas de eletricidade formado em 1912 sob a liderança do coronel Vicente Dias Jr., concessionário no município de São José do Rio Pardo.

A Companhia Paulista de Energia Elétrica (CPEE) e suas afiliadas no interior de São Paulo continuaram nas mãos de famílias brasileiras pela maior parte do século 20, até que em 1999 foram compradas pelo grupo estadunidense CMS Energy Brasil. Em 2007, a CPFL comprou da CMS Energy Brasil o conjunto de empresas pertencentes à antiga CPEE, que passaram a integrar a holding CPFL Energia. A operação da antiga Empresa Hidrelétrica Jaguari, que atendia os municípios de Jaguariúna e Pedreira, tornou-se a CPFL Jaguari. [3] 

O gerador de Macaco Branco - UNILINS

Vista aérea das ruínas da PCH Macaco Branco em 15/05/2023, em breve esta área estará completamente submersa. - Fonte: Google Earth

Em 2004 CONDEPACC, Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Campinas, abriu o Processo de Estudo de Tombamento nº 029/04, objetivando realizar o tombamento histórico da PCH Macaco Branco e das fazendas do entorno que remontam ao período cafeeiro do século 19.

Durante este trabalho, as instalações do PCH foram descritas utilizando a obra Pequenas Centrais Hidrelétricas no Estado de São Paulo, que assim descreve o empreendimento:  “O conjunto arquitetônico e maquinário da PCH Macaco Branco se localizam nos limites entre os municípios de Campinas e Pedreira, no alto do rio Jaguari em platô de aproximadamente 200 metros de extensão erigido no sopé da colina. O reservatório da Barragem Macaco Branco tem dimensões muito pequenas. Suas encostas mostram alguns trechos remanescentes de mata ciliar; mais a montante da queda natural do leito do rio Jaguari, elas são ocupadas por gramíneas e arbustos. Indícios de assoreamento ocorrem junto à barragem. 

A Barragem tem cerca de 77m de comprimento e altura máxima de 3,50m. Construída em concreto, sobre rochas graníticas de boas características geotécnicas, ela alteou a queda natural existente para permitir a adução de água em canal na encosta da margem esquerda. O curso do rio Jaguari foi desviado a montante por pequena estrutura de concreto em seu leito, que funciona como vertedouro de superfície livre até o canal mais profundo das quedas locais. Neste, foi executado um barramento com três Vertedouros de Superfície, com comportas, que operam como soleiras livres. Para o lado da ombreira esquerda, foi construído um muro de separação para desviar as águas ao Canal de Adução. Todos os equipamentos de regulagem de vazões apresentam boas condições operacionais e de manutenção.

O Canal de Adução foi construído em alvenaria de pedra e tijolos argamassados e tem duas comportas na Estrutura de Controle, duas para limpeza de fundo e, outras duas, junto à Câmara de Amortecimento, para eliminar excessos em ocasiões de cheias.  Todos os equipamentos e materiais relacionados a essas estruturas mostram sinais de deterioração.

A Câmara de Amortecimento, construída ao lado da Câmara de Carga, tem três comportas que permitem a regulagem do fluxo de água para alimentar a Tubulação Adutora.

Esta é constituída por três condutos forçados em aço, com extensões e diâmetros variados, cujos apoios de concreto assentam-se em rochas graniticas. Os condutos um e dois são interligados antes da da Casa de Força para atender às unidades respectivas; o terceiro conduto serve às outras duas unidades geradoras. A localização desse último conduto, junto à parede escavada da rocha. mostra pequenas interferências de escorregamentos no seu traçado e fundação.

A Casa de Força foi construída em alvenaria de pedra argamassada e tijolos, com fundações em rochas graníticas. A ampla Sala de Máquinas tem seus componentes internos muito bem preservados e mantidos em condições operacionais. Em uma das das extremidades, foi instalado o Painel de Comando. Em 1995, seus circuitos de comando e controle foram reformados, e a usina hidrelétrica tornou-se semi-automatizada. Em outro compartimento da Casa de Força, acha-se instalado um Grupo gerador a Diesel, de reserva, com capacidade para produzir 1.320 kVA.

O trecho aberto do Canal de Fuga foi escavado em solos de alteração e rochas graníticas.

O projeto hidrelétrico não tem equipamentos e instrumentos de controle hidrométrico.

A Subestação, externa à Casa de Força, possui dois transformadores elevadores. Uma outra menos, instalada nas proximidades, serve para transmitir a tensão utilizada nas atividades rurais locais. [9] 

Atualmente a hidrelétrica é um polo de abastecimento da rede energética do leste paulista, não mais restrita ao fornecimento do município de Pedreira. O casario da Vila de Operadores é constituído por duas casas geminadas, quatro casas individuais e grêmio recreativo, além da Casa de Hóspedes. [1]

O gerador de Macaco Branco - UNILINS

Croqui e descrição da PCH Macaco Branco [9]

Proprietário original: Silvio de Aguiar Maya (até 1979).
Início da construção: 1911.
Entrada em operação: 1912.
Drenagem: Rio Jaguari.
Bacia Hidrográfica: Rio Tietê.
Potência Nominal (kW): 375 + 448 + 500 + 1.040 = 2.363.
Número de Unidades Geradoras: 04.
Data de Energização

  • unidade 1: 1911;
  • unidade 2: 1911;
  • unidade 3: 1940;
  • unidade 4: 1956.

Altura de Queda Líquida Máxima (m): 16.
Turbina – Eixo e Tipo: Horizontal – Francis.
Velocidade (rpm): 60/450/360/400.
Vazão Turbinada (m³/s): 22 (total).
Tensão Primária (kV): 6,50.

Composição do Conjunto Arquitetônico da Usina Hidrelétrica Macaco Branco:

  1. Reservatório;
  2. Barragem;
  3. Vertedouro de Superfície;
  4. Entrada do Canal de Adução;
  5. Canal de Adução;
  6. Comporta;
  7. Câmara de Carga;
  8. Tubulação Adutora;
  9. Casa de Força;
  10. Canal de Restituição;
  11. Rio Jaguari;
  12. Ponte;
  13. Afloramento Rochoso.
A barragem de Pedreira

A crise hídrica de 2014 evidenciou que os projetos de ampliação do armazenamento hídrico no estado precisavam sair do papel. Em especial nas regiões próximas aos grandes centros urbanos. Um destes projetos era a barragem de Pedreira, que provia uma capacidade de armazenamento de 23 milhões de litros. Suficientes para suportar as demandas de abastecimento de cinco milhões de moradores das 20 cidades da Região Metropolitana de Campinas. [2]

Porém, como o projeto prevê o represamento do rio Jaquari a jusante da PCH Macaco Branco, esta ficará submersa no reservatório, assim como as fazendas Roseira e Espírito Santo – ambas construídas no século XIX. Assim como a Macaco Branco, os locais têm importância histórica: no passado, a Roseira foi uma importante produtora de café. 

Assim, em 2016 a CONDEPACC arquivou o processo de Tombamento, em favor da construção do novo reservatório. 

O Governo do Estado de São Paulo realizou a desapropriação e indenização dos proprietários de terras e empreendimentos. No caso da PCH, o DAEE tornou-se o proprietário da Usina Macaco Branco que ocasião da desapropriação pertencia ao Grupo CPFL.

Em 3 de março de 2021, por meio do Despacho nº 569, a ANEEL suspendeu a Operação Comercial da UHE Macaco Branco, encerrando assim o período de 109 de operação comercial do empreendimento.

Com o intento de realizar a preservação histórica dos equipamentos, em 31 de maio de 2021 o DAEE e a CPFL iniciam o processo dos geradores, que seriam então doados para Instituições que preservarão sua história.

Projeto da barragem de pedreira e mapa do reservatório 
O gerador de Macaco Branco - UNILINS

Fonte: DAEE - Departamento de Aguas e Energia Elétrica do Estão de São Paulo [4]

A doação

As três primeiras unidades geradoras, (duas datadas 1911 e uma de 1940), por serem menores, mais leves e maior valor histórico, foram encaminhadas para instituições dos arredores. A UG4, por ser a mais moderna das máquinas, foi reservada pelo DAEE à uma instituição de ensino, que pudesse aproveitar o equipamento também como ferramenta de aprendizagem.

Após processo de qualificação e seleção, o Centro Universitário de Lins – Unilins, foi agraciado com a doação do equipamento que ocorreu por intermediação do DAEE, Prefeitura Municipal de Lins e Centro Universitário de Lins. Colaboraram neste processo de desembaraço legal da doação o Dr. João Luís Lopes Pandolfi (Prefeito Municipal), Eng. Juliano Munhoz Beltani (Secretário de Municipal de DesenvolvimentoDr. Rildo Henrique Marinho (Procurador do Municipal).

Toda a logística de transporte de Macaco Branco até Lins foi realizada pela equipe da construtora Tiisa. Além de estar participando da obra da barragem de Pedreira, a construtora tem entre seus sócios em ex-aluno da Escola de Engenharia de Lins, que gentilmente mobilizou sua equipe e maquinário para realizar a complexa tarefa. Que demandou duas viagens para sua conclusão. 

Os primeiros componentes chegaram à Lins no dia 24/09/2021, conexões de tomada d’água ao caracol, suportes e componentes de controle do gerador. Os demais chegaram apenas no 11/11/2021, denotando a complexidade para desmontagem e transporte da UG4. Nesta tarefa, é preciso registrar o valoroso auxilio das equipes da Tiisa e DAEE que não mediram esforços para concretizar o desafio, mas em especial aos Srs. Eng. Francisco Eduardo Loducca (Superintendente do DAEE), Eng. Lupércio Ziroldo Antonio (Diretor da Bacia do Baixo Tietê), Dr. Sérgio Alcides Antunes (Procurador do DAEE), Antônio Corrêa Campos (Gerente da Obra da Barragem de Pedreira)Manoel Horácio Guerra FilhoGuilherme Alexandre MarquesJoão Bosco Machado AlvesAmadeu Luiz Palmieri; e pela construtora Tiisa Eng. João Villar Garcia (Nico), Eng. Bruno Villar, Eng. Rodrigo Martins da Costa e Eng. Luciano Correa Leite.

 As imagens abaixo, registram o descarregamento dos componentes na instituição. 

A Pesquisa

Ao receber o equipamento na instituição, percebe-se que o complexo processo de desmontagem e os atrasos acumulados principalmente em função da pandemia, fizeram com que as tarefas de desmontagem fossem menos cuidadosos que os das UGs 1 – 3. Foram feitos poucos registro fotográficos do equipamento montado, e a instituição não recebeu nenhum manual ou documentação técnica sobre os equipamentos. 

Os planos iniciais envolviam remontar a UG4 como se estivesse na mesma condição de utilização. Contudo, rapidamente percebeu-se que desta forma haveria pouco aproveitamento didático, pois os componentes internos permaneceriam ocultos. Assim, optou-se pela montagem de uma exposição do tipo “vista explodida”, em que os componentes poderiam ser apreciados em condições próximas aquela de sua utilização. Mas para isso seria fundamental obter o projeto original do equipamento. 

Teve inicio então uma busca pelo “verdadeiro” fabricante da UG4 de Macaco Branco. Que começou pela análise das placas de identificação:

As placas apresentam as indicações de dois fabricantes SIEMENS-SCHUCKERT e VOITH.

Como a Siemens mantêm na Alemanha um museu e  um centro de documentação histórica. A instituição optou por iniciar os contatos por este canal. 

A recepção da empresa foi excelente, sendo realizada pela Dra. Claudia Salchow, historiadora do Siemens Historical Institute

Hello Mr. Fernandez,

Unfortunately, we have to inform you that we cannot help you despite intensive research. We have found a document in which the Pedreira plant is mentioned, but the Siemens participation remains unmentioned (document from 1956a, page 6).

Several hydroelectric power plants in Brazil are listed in the brochure, but Pedreira is missing (document from 1957). Only the following hydropower plants in Brasil are found in our holdings: Tres Marias, Juru-Mirim, Furnas and Brasilia (document from 1960).

The plant in Pedreira is a horizontal design. I have found some brochures that might be relevant for you (documents from 1956b and 1967).

Due to the file size, I will send you the brochures via Secure File Exchange. Unfortunately, all documents are only available in German.

There is no evidence of the specific generator types of which you sent photos.

Despite our extensive archive holdings, we are unfortunately unable to answer every question.
With the request for understanding and kind regards

With kind regards
Dr. Claudia Salchow
Siemens AG
Communications
Branding
Siemens Historical Institute
CM BG SHI
Nonnendammallee 101
Siemensstadt
13629 Berlin, Germany

O gerador de Macaco Branco - UNILINS

Entre os folhetos disponibilizados pela Dra. Claudia Salchow, apenas um parágrafo trouxe informação relevante às pesquisas que estavam sendo conduzidas. O trecho em destaque (em Alemão), na imagem acima, e a tradução feita com auxilio da ferramenta google translator: “A planta de Pedreira no Brasil com um total de 5 turbinas com rotores Francis para desníveis de 18 a 30 m e potências de até 19.000 HP, construídas nos anos 1938-50 pelas empresas Voith, Morgan Smith (baseado em projeto da Voith ) e Allis-Chalmers.”

O documento com data de 1967, afirma que o projeto de Pedreira previa 5 máquinas, mas apenas 4 foram executados. E a data citada é mais alinhada com a data de fabricação da UG3, e não da UG4. Mas é interessante que embora a logomarca da Siemens esteja presente nos geradores, não há nenhum indício de eles tenham sido efetivamente produzidos pela empresa, mas sim que o projeto tenha sido licenciado para que outras empresas pudessem executá-lo. Como a Morgan Smith e a Allis Chalmers.

Diante disso, era imperativo estabelecer um contato com a empresa Voith na busca de informações sobre o projeto da UG4.

Após algumas tratativas, obteve-se retorno da Sra. Augusta Fernandes da Silva, que mobilizou o Dr. Humberto Gissoni e o Sr. Manuel Gonçalves, para estabelecer contatos com a Sede da Voith na Alemanha, em busca de alguma informação que pudesse colaborar com o intento de preservação histórica e técnica da UG4. Para a alegria de todos os envolvidos, os projetos estavam devidamente registrados nos arquivos da matriz.

De acordo com os registros disponíveis, a turbina possui as seguintes características:

Queda líquida = 15,7 m
Vazão = 8,5 m3/s
Rotação = 300 rpm (posteriormente alterada para 360 rpm).
Potência = 1500 CV = 1,1 MW
Diâmetro de entrada do tubo de sucção = 1085 mm

As lâminas com o Plano de Instalação original Voith da UG4 está disponível nas imagens abaixo.

Projeto de Instalação de UG4 de Macaco Branco – Cortesia Voith

Próximos Passos

Os projetos obtidos permitirão à Unilins prosseguir com o projeto de construção de uma instalação de exibição apropriada para a UG4. Após a conclusão do projeto, será iniciada uma captação de recursos para a viabilizar sua construção. 

 
Isenção de responsabilidade

Os fatos relatados foram obtidos através de pesquisas na internet e consultas aos envolvidos aqui citados. Faça contato por e-mail se alguma informação estiver incorreta, seu nome estiver creditado incorretamente ou se não desejar participar deste relato.

Última atualização: 20/04/2024

 

Referências:

[1] – ATA 452; REUNIÃO ORDINÁRIACONDEPACC – CONSELHO DE DEFESA DO PATRIMÔNIO CULTURAL DE CAMPINAS; SECRETARIA MUNICIPAL DE CULTURA. 2016.

[2] – Após 108 anos de operação, usina em Campinas é desativada para construção da represa de Pedreira | Campinas e Região | G1 (globo.com) 

[3] – (74) USINA MACACO BRANCO – YouTube

[4] – https://www.daeepedreiraeduaspontes.com.br/

[5] – DAEE inicia retirada do maquinário da Usina Macaco Branco – Barragem Pedreira (daeepedreiraeduaspontes.com.br) 

[6] – Usina é desativada após 109 anos (rac.com.br) 

[7] – Fim Da Usina Macaco Branco, Veja Como Esta Hoje Antes Da Inundação, Hidrelétrica Construída Em 1911. (youtube.com) 

[8] – DAEE doa turbina geradora de 1954 para centro universitário de Lins – Departamento de Águas e Energia Elétrica 

[9] – Pequenas centrais hidrelétricas no estado de São Paulo. Fernando Amaral de Almeida Prado Jr. SÃO PAULO SP : PAGINAS E LETRAS, 2000. 281 p.      ISBN 85-86508-11-X.

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